domingo, 2 de setembro de 2007

Andorinha


..."Andorinha, andorinha, minha andorinha", pediu o príncipe uma vez mais,"fica comigo mais uma noite"... Durante todo o dia seguinte, a andorinha ficou sentada por sobre o ombro do príncipe, contando-lhe histórias do que tinha visto em terras distantes. Falou-lhe dos íbis vermelhos, que permanecem em longas filas nas margens do Nilo e que apanham peixes dourados com os seus bicos; falou-lhe da Esfinge, tão velha como o próprio mundo, que vive no deserto e que tudo sabe; falou-lhe dos mercadores, que caminham vagarosamente junto dos seus camelos e levam nas suas mãos colares de âmbar; falou-lhe do Rei das Montanhas da Lua, que é preto como o ébano e venera um grande cristal, da grande cobra que vive nas palmeiras e que vinte sacerdotes alimentam, com bolos de mel... Por fim chegou a neve e com a neve veio o gelo. As ruas pareciam feitas de prata, de tão lisas e brilhantes que estavam; como punhais de cristal os sincelos enfeitaram os beirais das casas... Até que um dia a andorinha soube que ia morrer. Apenas lhe restavam forças para voar uma vez mais até ao ombro do príncipe. "Adeus querido príncipe!", murmurou, "deixas-me beijar a tua mão?"."Ainda bem que partes finalmente para o Egipto, minha andorinha", disse o príncipe, "ficaste aqui demasiado tempo; mas deves beijar-me os lábios porque eu adoro-te. "Não é para o Egipto que eu vou", respondeu a andorinha,"Vou para a Câmara da Morte. Ou não é a morte a irmã do sono?"...



in “O Príncipe Feliz”, Oscar Wilde

Um comentário:

D.D.F disse...

vasculhei todo seu blog. mas o fiz por e com praser pois logo que me deparei com o primeiro post vi que seu blog tem alma.
parabens pelo bom gosto no testo e nas fotos.