terça-feira, 16 de outubro de 2007

O GÊNIO DA NOITE


Noturno guardião dos sonhos
Quando o sono encerra o canto
E o lamento,
Transforma a dor e o pranto
Em esquecimento.
Tu que vestes de estrelas
O pano da noite
E conduz
Nesse infinito espaço,
O ventre imenso
Da lua,
Em seu altar de prata.
Dos teus negros olhos,
Nascem a aurora,
Como a esperança
Que rompe com seus braços de sol
A escuridão.
E do teu absoluto breu,
Gênio da noite,
Permites que surjam
Os primeiros anjos
Em suas vestes.
E de suas mãos
Surgem mandalas
E de seus dedos
Prelúdios
Nas cores do dia,
E há desejos
Nos olhos incendiados
Da manhã.
Isabor Navarro

Platonica


É por nada saber
Que tanto sei.
Que a esperança
É branca, cega,
Bandeira que se embala
Fustigada pelo vento
É vela
Desenhada na aquarela
De um oceano.
Não procuro a verdade
Sigo as setas do destino,
Caminho improvável
Da felicidade,
Onde arde o desejo
Como um lume
Aceso ao peito,
Flor de carne.
Eu quero o amor
O inconcebível ato de amor
Entre os astros separados,
Essa imagem
A platônica mensagem,
O beijo do sol
No ventre da lua,
A eterna procura
Dos teus olhos
Como tochas
Na madrugada
Do meu corpo
,E as tuas mãos fantasmas
Em minha alma nua.

Eugénio de Andrade


"Olhos postos na terra

tu virás, no ritmo da própria primavera

e como as flores e os animais

abrírás as mãos de quem te espera."


Eugénio de Andrade