segunda-feira, 19 de março de 2007


A tua folhagem foi cortina,
Foi manto a cobrir-me a juventude,
Foi berço dos meus sonhos de menina,
Dos amores meus, amena quietude.

Fui menina na sombra dos teus dedos,
Fui mulher no leito dos teus braços,
Em silêncio foste cofre de segredos,
Para mim, o mais doce dos regaços.

Escondeste sonhos meus de amor,
Colheste minhas lágrimas de dor,
Ouviste meus amores, meus desenganos,

Foste o meu remanço e o meu ninho.
O vento norte punha em desalinho
O rosário de folhas dos teus ramos...


Quem de nós tem a coragem
de aceitar a sua imagem,
aquela imagem sem graça,
sem rasgos, imagem baça
que o espelho teima em reflectir?

Quem de nós tem a ousadia,
no viver do dia a dia,
de retirar a mordaça
gritando ao vento que passa
o seu interno sentir?

Quem deixa cair a máscara?
Fantasia construída
de cada um para si.
Máscara de Rei, de Profeta,
de intelectual, de poeta,
de homem muito importante
que não esquece a cada instante
o gesto, o sorrir conveniente,
a vénia subserviente,
que nunca o desmascara.

Quem deixa cair a máscara?