quinta-feira, 10 de maio de 2007

Fácil, a gente ter mãe...Dificil é perdê-la


Fácil, a gente ter mãe, nem se percebe que tem, mas só saber que ela existe,que podemos encontrá-laà hora que desejarmos,que seus olhos sorrirão, cheios de amor e bondade, ao ver a nossa aflição; que a seu lado - ela que é fraca-nos sentiremos tão fortes confiantes no futuro, o coração tão seguro e o mundo todo tão bom, como se fosse verdade,só isto vale ter mãe, e é uma felicidade.
Fácil a gente ter mãe - quase todo mundo tem - mãe é uma coisa tão bela! Pena é ver que há pela vida os que só sabem que há mãe porque ouviram falar nela, só a conhecem de nome, às vezes mesmo, nem isto. Mãe é uma simples palavra como uma nuvem ao vento, um vazio pensamento.
Fácil a gente ter mãe, nem se percebe que tem no todo dia a seu lado quando se tem a certeza e se sabe onde ela está, pra dividirmos com elau ma alegria, um revés, que basta só querer vê-la. Assim é fácil ter mãe.
Difícil, sim, é perdê-la, é ter que aceitar a idéia de que no lugar de sempre ela não se encontra mais. Não adianta abrir a porta; não passeia na varanda, a cadeira está vazia, na cama não tem ninguém. E aquela voz que conforta, que nos dava tanta paz, que era um bem que não tem preço, que era o nosso maior bem; não ouviremos, calou-se, é que ela agora mudou-se pra um lugar sem endereço onde os deuses moram, no Além.
Ah, difícil é perdê-la, nunca mais poder achá-la, nos sentarmos a seu lado, passearmos na varanda, vê-la no quarto ou na sala, que partiu, sem ter mais volta, que pra nós nunca mais vem!
E indefesos e sozinhos, termos que aceitar a sorte por desolados caminhos, inconformados com a morte, todos perdidos também.
Fácil é a gente ter mãe, mãe é assim como uma estrela, estrela-guia que a gente traz guardada dentro em si.

Difícil, sim, é perdê-la como uma estrela cadente que de repente se apaga...

Entao vc diz : ''oh, meu Deus, eu a perdi''.

J.G. de Araújo Jorge

Geometria dos ventos


Eis que temos aqui a Poesia, a grande Poesia.
Que não oferece signos nem linguagem específica, não respeita sequer os limites do idioma.
Ela flui, como um rio. como o sangue nas artérias, tão espontânea que nem se sabe como foi escrita.
E ao mesmo tempo tão elaborada - feito uma flor na sua perfeição minuciosa, um cristal que se arranca da terra já dentro da geometria impecável da sua lapidação.
Onde se conta uma história, onde se vive um delírio; onde a condição humana exacerba, até à fronteira da loucura, junto com Vincent e os seus girassóis de fogo, à sombra de Eva Braun, envolta no mistério ao mesmo tempo fácil e insolúvel da sua tragédia.
Sim, é o encontro com a Poesia.

Rachel de Queiroz

Florbela, Não Me Espanca! --


Ajuda-me, Florbela, o coração,
Quando teus versos leio, mergulhada no mais profundo abismo do teu nada,
Na tua angustiosa solidão.
Ajuda-me, Florbela eternizada
Em cada nota da tua vã canção.
Que eu não me atreva a por explicação
No que escrevias quando ensimesmada!
Ajuda-me, Florbela, a ler no escuro
Dos teus sonetos o clamor mais puro,
Que me arrepia a pele e que me encanta.
Perdoa-me, Florbela, incomodar-te ...
Quando eu pranteio sobre essa tua arte
Tira-me a dor, Florbela ... Não Me Espanca !
(Silvia Schmidt)

As cem razões do amor



Eu te amo porque te amo.
Não precisas ser amante, e nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça e com amor não se paga.
Amor é dado de graça, é semeado no vento, na cachoeira, no eclipse.
Amor foge a dicionários e a regulamentos vários.
Eu te amo porque não amo
bastante ou demais a mim.
Porque amor não se troca, não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada, feliz e forte em si mesmo.
Amor é primo da morte, e da morte vencedor, por mais que o matem (e matam) a cada instante de amor
Carlos Drummond de Andrade